Em Diadema, funkeiros usam YouTube para desenvolver técnicas de streaming
Por Tamires Rodrigues | Edição de Ronaldo Matos
Narrar suas vivências por meio da música e levá-la a bailes de rua, casas de shows e fones de ouvido. Esse sonho tem feitos artistas das periferias perderem noites de sono estudando as plataformas streaming, que hoje são parte essencial do processo de distribuição profissional da música.
É o caso de Walison Junior, que há oito anos fundou a gravadora Funk de Elite, na periferia de Diadema, região do ABC paulista. Hoje, ele possui três espaços na região, que atuam na divulgação e produção de conteúdo de DJs e MC's. A gravadora gerencia em torno de 30 artistas, mas ainda vê dificuldades na hora de acelerar suas carreiras.
"Tem cinco anos que estou só peneirando os artistas, sobraram cinco que são tops", conta Junior, afirmando que a maioria dos artistas agenciados pela produtora não conseguem permanecer sonhando com o sucesso no funk devido as necessidades pessoais. "Se o sucesso demora muito e a produtora não ajuda, eles têm que achar outros trabalhos, porque muitos são pais de família."
Um destes artistas que permanecem na produtora é Robson Daviliano, o DJ Robson. Ele mora a poucos minutos da gravadora e no seu tempo livre se diverte produzindo beats. "Desde os oito anos trabalho com música, tinha um programinha, o virtual DJ, que instalei num computador que minha irmã comprou. No começo, não levava a sério. Mas depois comecei a partir para produção", lembra.
Para Junior, o DJ é um elemento determinante no funk, pois ele tem a missão de tocar a música nas casas de shows, contribuindo diretamente para o sucesso do artista. Mas segundo ele, para esse processo acontecer com harmonia, o artista precisa "estourar nas plataformas de streaming."
YouTube: aprendendo com as dificuldades
A plataforma mais utilizada pela produtora é, claro, o YouTube. Só que está cada dia mais difícil ganhar dinheiro com a ferramenta –desde 2018, ela vem mudando sua forma de monetização, fazendo com que o produtor de conteúdo tenha que produzir muitos vídeos para conseguir uma alta taxa de visualização.
"Nosso canal tem 400 mil inscritos, porém poucos vídeos batem 20 mil visualizações. Estamos impulsionando as músicas pelo Facebook e Instagram, mudando nosso mecanismo para ver a resposta", diz Junior. "Mas tem um caminho que a gente ainda não encontrou."
Com os recursos que os artistas da produtora conseguem monetizar no Spotify, Junior releva que só consigue "pagar o trabalho do designer gráfico que presta serviços esporádicos."
Diante das dificuldades de divulgação do trabalho e monetização nas plataformas digitais, Thiago Vinicius, outro DJ da gravadora – DJ Original Beat, passa horas vendo vídeos de pessoas produzindo no mesmo programa que ele e buscando referências para divulgar sua música. "Eu brinco que sou formado no YouTube."
Inspirado pelo DJ Pereira, devido as referências musicais que ele utiliza em suas produções que bombam na cena São Paulo e Rio de Janeiro, Vinicius tem se dedicado a pesquisar novas tecnologias para ampliar o seu repertório, visando gerar mais relevância para o seu trabalho no ambiente digital.
"Para chegar nos nossos objetivos, você tem que produzir e pesquisar muito, dormir e acordar com o funk quase todos os dias", ressalta Vinicius.
As plataformas digitais acabam criando muitas vezes artistas invisíveis pelo fato de não alcançar as exigências que os algoritmos propõem. Mesmo assim, a gravadora continua trabalhando para alcançar novos públicos, promover seus artistas e sua marca.
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