Como crianças do Campo Limpo e de Paraisópolis estão aprendendo a programar
Escola de programação, robótica e cultura maker na periferia de São Paulo ajuda a desenvolver habilidades técnicas e práticas sensoriais
Por Tamires Rodrigues | Edição de Ronaldo Matos
Imagine uma escola que utiliza métodos de educação lúdica para ensinar programação e robótica. Imaginou?
Provavelmente não veio em sua mente que algo parecido com isso existe nas quebradas de São Paulo, certo? Pois essa é a proposta do Jovens Hackers, iniciativa que vem aproximando crianças das periferias da cidade de técnicas e práticas que visam desenvolver uma autonomia digital.
O objetivo maior do projeto é desenvolver três habilidades principais em seus alunos: raciocínio lógico, criatividade e trabalho em equipe.
Como o projeto surgiu?
O criador do Jovens Hackers, Arthur Gandra, conta que desde criança gosta de tecnologia, porém teve uma decepção quando adolescente. Ele iniciou um curso técnico de informática, mas não conseguiu se encaixar dentro da metodologia de ensino. Acabou desapontado com as práticas e resolveu se distanciar da área.
Gandra terminou o ensino médio, passou na faculdade e acabou se formando em comunicação social. Mas o amor pela tecnologia ainda estava ali, presente. Foi então que encontrou uma saída para se reconectar com o universo digital e decidiu ensinar um pouco do que sabia ao seu sobrinho. Foi desafiador.
Entre uma pesquisa e outra para tornar as aulas de programação mais atrativas, o jovem teve uma ideia: porque não criar uma escola que ensina tecnologia para crianças e jovens nas periferias de uma maneira divertida?
Gandra apostou suas fichas na ideia e começou a pesquisar bastante sobre o tema. Em 2017, o programador lançou o projeto Jovens Hackers, mesmo não sabendo muito bem por onde começar.
Um dos pontos de virada foi a participação da iniciativa no programa Vai Tec, uma política pública que promove a aceleração de negócios de tecnologia nas periferias de São Paulo. Além de mentoria, o projeto recebeu um aporte de R$ 27 mil para investimentos nas atividades.
Com o recurso, Gandra conseguiu estruturar melhor a proposta e conseguiu colocar tudo em prática. Só no primeiro ano de existência dos Jovens Hackers, 500 crianças foram atendidas na zona sul de São Paulo, nos bairros Campo Limpo e Paraisópolis. O gasto médio com cada uma deve ter girado em torno de R$ 56, explica o programador.
Como as aulas funcionam?
No início das aulas, os alunos aprendem lógica de programação utilizando a computação desplugada, um método de ensino que fala sobre a funcionalidade do computador sem a necessidade de usar um equipamento tecnológico e eletrônico, como o celular, tablet ou notebook.
A medida que as crianças avançam seus conhecimentos, as aulas vão ganhando mais complexidade. Nesse momento é inserida a aprendizagem em robótica educacional por meio do 'micro:bit', uma pequena placa eletrônica que pode ser programada em várias linguagens de programação, ou pelo programa Scratch, um software que converte as estruturas de código em linguagem visual de blocos de montar.
O micro:bit foi desenvolvido pela BBC, no Reino Unido, com intuito de ensinar programação para as crianças em escolas públicas antes de elas serem alfabetizadas. Esse desenvolvimento visa garantir que elas estejam preparadas para uma vida em sociedade moderna e assim tentar diminuir o déficit do setor profissional de tecnologia no país.
Voltando ao Jovens Hackers, ao final das aulas, relata Gandra, a taxa de desistência se mantém em um nível muito baixo, o que fortalece a relevância do projeto e o interesse das crianças.
"A gente diz aqui: assim como quem aprende a escrever não vira escritor, quem faz aula de história não vira historiador… quem aprende programação também não necessariamente vai virar um programador. É só uma maneira de você aprender a se comunicar melhor com o mundo", explica o fundador do projeto.
"Sempre soube da importância de ensinar programação quando se é criança. Nessas minhas pesquisas descobri uma metodologia lúdica, diferente e atrativa para os jovens e crianças. Talvez se tivesse tido acesso a essa metodologia eu teria seguido na área de T.I", lamenta ele, sobre a descoberta tardia da aprendizagem divertida na tecnologia.
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