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Empresa de fibra ótica fornece à quebrada internet rápida na pandemia

Quebrada Tech

08/07/2020 04h00

Equipe de vendas e atendimento da VeloxNet, empresa que se destaca pelos planos de internet voltados para a periferia (Arquivo pessoal)

Consumidores conseguiram emprego e acesso a internet durante a pandemia graças aos serviços prestados por uma empresa que fornece fibra ótica nas periferias de Diadema e em bairros da zona sul da cidade de São Paulo.

Por Tamires Rodrigues

Moradores, comércio local e serviços essenciais nas periferias de Diadema e bairros da zona sul de São Paulo só conseguiram acesso a internet durante a pandemia de coronavírus para manter a rotina de trabalho graças aos serviços oferecidos por uma pequena empresa que fornece fibra ótica chamada VeloxNet.

O desinteresse das grandes operadoras de telecomunicação em atender a região também contribuiu para a VeloxNet obter um aumento nas vendas de planos de internet nesse período de quarentena. "A gente percebe o quanto o morador da periferia é deficiente da parte de tecnologia, de internet. A gente vê um preconceito das grandes operadoras", diz Marcelo Vicente, 52, um dos sócio-fundadores da empresa.

"Estamos com um serviço de extrema necessidade no meio da pandemia. 'Todo mundo vai precisar da gente', dissemos. Tivemos que entender, nos proteger e conversar com nossos funcionários. Aí a gente fez aqui um protocolo anticovid", acrescenta.

Assim que iniciou a pandemia, a empresa adaptou os prazos de pagamento, dando prazo maior para os clientes pagarem as mensalidades pendentes. Com essa medida, Vicente relata que muitos moradores conseguiram se adequar ao pagamento e o consumo até aumentou. "O consumo na pandemia triplicou. Todo mundo em casa, todo mundo precisando usar internet , muitas pessoas trabalhando em casa, as crianças que não iam para escola precisando de internet", diz.

Ao notar o crescimento da demanda, a empresa buscou entender as necessidades dos moradores para flexibilizar a forma de pagamento. "No pior período da pandemia, entre março e abril, nós isentamos a taxa de ativação e colocamos taxa zero para a pessoa só ter a despesa após 30 dias de utilização", afirma.

Vicente defende que a empresa precisa se adaptar ao ritmo dos moradores para pensar em suas necessidades básicas e não só em lucro."Independente de nós termos uma empresa com fins lucrativos , que precisa gerar lucros, a gente entende também que estamos em um outro mercado, onde hoje é preciso ter um entendimento de duas mãos".

Atualmente a empresa oferece planos com velocidades de 20, 30, 45, 70 e 120 MB. Os preços variam entre R$ 69,90 e R$ 129,90. Outra media para atender o aumento nas vendas e instalação foi estender o horário de funcionamento, fazendo plantões de suporte aos moradores aos domingos e aumentando o quadro de funcionários.

Nos últimos 60 dias, a empresa contratou dez funcionários para ajudar a organizar as demandas. "Hoje é nossa política de trabalho só pegarmos pessoas da comunidade para trabalhar conosco. Mesmo que não tenham experiência, nós contratamos e treinamos", diz Vicente.

Letícia Abrahão, 22, é moradora do Jardim Ubirajara, um dos bairros que fazem parte distrito da Cidade Ademar, território onde a VeloxNet atua. Ela foi contratada pela empresa há trinta dias para trabalhar no setor de vendas e recepção. "Estava atrás [de empreto] há muito tempo. Foi difícil, mas consegui", diz Abrahão, lembrando que antes da pandemia já estava frustrada por não encontrar emprego em nenhum lugar.

Atualmente a moradora leva 20 minutos no percurso de casa para seu trabalho. Nem sempre foi assim. Ela já chegou a passar uma hora e meia em trânsito para chegar ao antigo trabalho. "Era cansativo demais", diz. Hoje, Abrahão diz que não precisa acordar muito cedo e tem tempo para fazer os seus deveres.

Para Vicente, esse impacto na vida da colaboradora tem uma conexão direta com o fato de a empresa apoiar o desenvolvimento da economia local. "A gente vai almoçar no bar da esquina, a gente vai arrumar o pneu no borracheiro da esquina, a gente vai trocar um vidro no vidraceiro da esquina. Hoje nós somos consumidores do bairro também, não saímos daqui para fazer nada, entendeu?".

Descaso com o cliente

Robson Willian produz lives de jogos em plataformas de games para gerar renda durante a pandemia (Rebeka Santos)

Morador do bairro Cidade Julia, localizado no distrito de Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, Robson Willian, 27, é cliente há nove meses da VeloxNet. Antes ele usava os serviços de uma operadora tradicional, mas estava insatisfeito. "Eu usava a Vivo, uma empresa que faz descaso com o cliente. Ela não atendia, não dava suporte. A internet era muito ruim. Aqui na região antigamente só existia a Vivo, então nós ficávamos muito limitados em realizar algumas tarefas. Até para assistir filmes na Netflix, só rolava se alguém não estivesse navegando em nada", conta.

O morador compara o serviço prestado pela antiga empresa e a de hoje. "Além da qualidade absurda do serviço, o preço é acessível, o suporte é rápido, eles são flexíveis em questão de datas de pagamento. São coisas que a outra empresa não fornecia. Se eu estivesse com a Vivo, não estaria fazendo nem 1/3 do que estou fazendo".

Atualmente Willian está passando a maior parte do tempo em casa. Ele depende da internet para desenvolver a sua vida profissional, focada na produção de streaming de jogos em seu canal na Twitch TV.  "Meu maior consumo é na realização de streaming. Além de levar entretenimento legal para a galera, consigo alguns trocados para ajudar nas contas de casa. Uso também para games online e alguns cursos", diz o jovem, que foi demitido no início da quarentena e está a procura de emprego.

Sobre os autores

O Desenrola E Não Me Enrola é um coletivo de produção jornalística que atua a partir das periferias de São Paulo, investigando fatos invisíveis que geram grandes impactos sociais na vida dos moradores e moradoras dos territórios periféricos.

Sobre o Blog

Como a vida dos moradores das periferias vem sendo impactada pela revolução digital que transformou as relações sociais, econômicas, culturais e políticas? É isso que o coletivo de jornalismo Desenrola E Não Me Enrola vai contar aqui no blog, trazendo histórias diretamente de quebrada para você conhecer de maneira mais aprofundada esse contexto social que mescla recursos mobile, consumo, comportamento, redes sociais e inovação. Site: https://desenrolaenaomenrola.com.br/