Como as lan houses da quebrada sobrevivem na era dos smartphones?

Em tempos de smartphones, lan houses sobrevivem nas periferias de São Paulo (Ronaldo Matos)
Lan houses tiveram papel importante na democratização do acesso à internet nas periferias. Mas hoje, como elas conseguem se manter em atividade?
Por Tamires Rodrigues
Com a popularização dos smartphones, as lan houses estão se reinventando nas periferias para não desaparecerem por completo. Elas cumpriram um importante papel: foram responsáveis por construir um dos primeiros espaços comunitários de acesso à internet nas quebradas.
Historicamente, as lan houses foram um ponto de encontro onde muitos moradores tinham o primeiro contato com computadores e a internet, que ainda era discada. Nessa época, na metade dos anos 2000, as lan houses foram uma aliada importante para fortalecer as políticas de inclusão digital.
Uma dessas histórias cruza com a trajetória de André Matheus, morador do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo. Ele criou uma lan house em 2005 chamada Internet para Todos. Segundo o morador, a ideia do nome surgiu por uma situação de preconceito que ele passou.
"Fui hostilizado quando tentei usar uma lan house em Moema [zona sul de São Paulo] e ficaram me olhando como se eu fosse um 'trombadinha'. Ao chegar em casa fiquei meio mal", lembra Matheus.
Foi então que Matheus resolveu criar a sua própria lan house. "Ganhei um computador antigo do meu pai, e muitas crianças queriam usar. Nem tinha internet banda larga, era a discada ainda. Então abri as portas de casa e deixei as crianças usarem".
Depois disso, André ganhou outro computador, dessa vez do seu patrão. "As crianças ficavam felizes e a fila era enorme", diz. Assim que completou 18 anos, Matheus conseguiu comprar mais dois computadores para sua lan house. "Parcelei em 36 vezes, era uma fortuna", lembra. Todo dinheiro que ganhava reinvestia no negócio. Além disso, Matheus passou um bom tempo aprendendo os processos do sistema de gestão de usuários para organizar sua lan house. "Eu trabalhava das 6h às 14h e ficava aprendendo até as 2h da manhã", afirma.
No primeiro ano de operação, o acesso de uma hora de internet custava R$ 1. Com o passar do tempo, Matheus conseguiu se estabilizar e implementou novos serviços como a elaboração de currículos e impressão de documentos. Muitos jovens iam fazer trabalhos escolares em sua lan house.
Junto com a lan house, Matheus abriu uma assistência técnica na loja, pois entendeu que esse serviço era bem procurado em seu bairro. "Abrir a assistência foi essencial para manter o negócio, pois só internet não pagava as contas", diz. Hoje, a loja faz consertos por encomenda e serviços online.
André acredita que a lan house não foi só um lugar que proporcionou acesso a tecnologia para os moradores. "Foi uma maneira de tirar as crianças das ruas. E também juntamos várias pessoas através da internet. Hoje tenho vários amigos que estão juntos graças à internet da loja".
Resolver problemas
Consciente da importância de acessar o mundo digital, José Antônio, morador de Perus, distrito localizado na região noroeste de São Paulo, decidiu abrir em 2017 uma loja de serviços digitais no seu bairro.
"Na época eu já conhecia a situação das lan houses no país, que não estavam no auge. Por isso, não foquei em fazer um comércio para o público utilizar como uma lan house em si, mas sim para auxiliar o cliente no que ele necessita", afirma Antônio.
A lan house do Antônio é usada pelos moradores para resolver problemas do cotidiano. São serviços simples, mas que fazem toda a diferença para quem está na correria do dia dia. "Realizamos serviços que geralmente ninguém gosta de fazer, por exemplo, cadastro em sites ou formatação de computador", diz.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.