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Quebrada Tech

Único aparelho de muitos alunos, celular ajuda pouco no ensino a distância

Quebrada Tech

13/05/2020 04h00

Aisha Gabrielle,14, moradora do Jardim Guarani, no distrito de Brasilândia, uns dos mais afetados pelo covid-19 em São Paulo (Arquivo pessoal)

Hoje vamos mostrar a saga de uma aluna e uma professora da rede pública de ensino da Brasilândia, um dos distritos mais afetados pela pandemia de coronavírus, que estão com dificuldades para acessar as plataformas de ensino a distancia, fornecidas pelo poder público como alternativa ao fechamento das escolas durante o período de isolamento social.  

Por Tamires Rodrigues

Não é de hoje que o celular é uma ferramenta para os jovens realizarem inúmeras tarefas do cotidiano. No entanto, em meio a pandemia de coronavírus, o aparelho demonstra falhas de usabilidade para quem precisa dele para o estudo a distância. Essa é a realidade de milhares de jovens alunos que estão matriculados na rede pública de ensino nas periferias de São Paulo.

Umas dessas alunas é Aisha Gabrielle, 14, moradora do Jardim Guarani, bairro localizado no distrito de Brasilândia, uns dos mais afetados pelo covid-19 em São Paulo. Ela está cursando a nona série do ensino fundamental, mas desde abril não consegue acessar a plataforma digital de ensino, período no qual as aulas online foram abertas para os alunos da rede municipal.

"Em nenhum dia eu consegui acessar o site e o aplicativo. Eu tento, tento, mas ele nunca entrou", diz Aisha.

Ela não tem um computador em casa e o único dispositivo disponível para acessar a internet é o celular. Aisha afirma que as suas maiores dificuldades estão relacionadas ao processo de login na plataforma. "O que mais me impede é o modo de entrar, isso que está me incomodando".

Já com o celular da mãe, Aisha consegue assistir às aulas com uma boa experiência de navegação e possibilidade de visualizar os arquivos. "O meu não tem condições, não tem memória suficiente".

Segundo a estudante, ter um computador facilitaria a sua rotina cercada por dificuldades técnicas para acessar os conteúdos didáticos.

Professora mobiliza doações para alunos

Diante desse cenário de alunos com dificuldade de acesso ao ensino a distância, Aline Marks, professora de história da rede municipal na Brasilândia, teve a ideia de articular uma campanha para doação de tablets, notebooks e computadores para jovens de territórios periféricos.

"Quem sabe se a gente conseguir equipamento tecnológico, eles podem conseguir nas suas próprias comunidades algum acesso à internet. Foi nesse momento que surgiu a ideia de criar um texto e compartilhar com minha rede de contatos", diz Marks,  que divulga a campanha em seu perfil pessoal no Instagram e WhatsApp.

A professora afirma que colegas de trabalho estão aderindo a mobilização. "Aqui na região da Brasilândia, os coordenadores e diretores estão sabendo da proposta. Eles estão conversando com outras redes para tentar viabilizar alguma coisa, como entrega e recebimento das doações", diz

Até o momento a campanha arrecadou um tablet, um notebook e dois computadores. A forma como as doações serão distribuídas está em estudo. "A ideia é que primeiro a gente descubra com as direções e coordenações das escolas públicas quem são os estudantes que não têm nenhum equipamento e como a gente pode chegar até eles".

Marks enfatiza a necessidade de inclusão digital para que a educação a distância funcione para todos. "A gente está tendo que se reinventar de várias formas, mas não é uma invenção que seja equitativa. É uma reinvenção que exige não só o equipamento, não só a internet, mas uma habilidade de acessar isso".

Para a professora, o ensino remoto que está sendo praticado nesse contexto pelas escolas públicas é diferente do ensino a distância. "As metodologias do EAD são pensadas e adaptadas com tempo e os estudantes se matriculam já sabendo das condições de acesso: que precisam ter internet e equipamento compatível. Então, além da intencionalidade e da preparação do material e das aulas pelo professor, existe também a intencionalidade do estudante que escolheu o ensino a distância", afirma.

"Além de precisarmos aprender e ensinar a aprendizagem remota, também precisamos encontrar meios para alcançar aqueles que não têm acesso algum", conclui a professora.

Sobre os autores

O Desenrola E Não Me Enrola é um coletivo de produção jornalística que atua a partir das periferias de São Paulo, investigando fatos invisíveis que geram grandes impactos sociais na vida dos moradores e moradoras dos territórios periféricos.

Sobre o Blog

Como a vida dos moradores das periferias vem sendo impactada pela revolução digital que transformou as relações sociais, econômicas, culturais e políticas? É isso que o coletivo de jornalismo Desenrola E Não Me Enrola vai contar aqui no blog, trazendo histórias diretamente de quebrada para você conhecer de maneira mais aprofundada esse contexto social que mescla recursos mobile, consumo, comportamento, redes sociais e inovação. Site: https://desenrolaenaomenrola.com.br/