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Maquininha de cartão muda consumo e impulsiona negócios da quebrada

Quebrada Tech

27/11/2019 04h01

Por Tamires Rodrigues

Todos os sábados, umas das primeiras coisas que Tatiane Rodrigues e seu filho Derik fazem é colocar um pagode para tocar, enquanto na cozinha de sua casa ela inicia a preparação da "feijoada da Tatiane", famosa entre os vizinhos pelo sabor carregado de temperos e especiarias da cozinha baiana, estado de origem da empreendedora.

Quando o ponteiro do relógio marca meio-dia, os pedidos das primeiras entregas já estão anotados. Uma parte considerável dos clientes de Tatiane são moradores do Jardim Copacabana, bairro da zona sul de São Paulo, onde a empreendedora reside.  Hoje, a fama da sua feijoada já chegou aos bairros vizinhos.

A ideia começou a ganhar forma quando os vizinhos começaram a questioná-la sobre o motivo dela não abrir seu próprio negócio, montar um restaurante e expandir seu talento pela periferia de São Paulo. A partir dessa provocação, Tatiane começou a vender sua feijoada aos sábados para os amigos e moradores de outros bairros. "Ela já cozinhava bem e tinha essa vontade de ser autônoma, de se manter na sociedade que você vive", afirma Derik Rodrigues, filho de Tatiane, que a auxilia nas vendas e entregas.

As tarefas são divididas em família, enquanto Tatiane está na cozinha preparando a comida, Derik está na rua com sua bike entregando os pedidos. Ele lembra que uma das maiores dificuldades no começo foi realizar o pagamento, pois muitos dos seus pedidos são pagos em cartão de crédito ou débito. Ao perceber essa tendência, eles solicitaram uma máquina para pagamento em cartão para continuar seus negócios. Mesmo assim, não foi fácil e outras dificuldades surgiram durante a fase de adaptação.

"Eu tive problema com a maquininha durante um tempo, tinha que conectar com Bluetooth do celular para ter internet e tal. Fazer isso em alguns lugares que não tinha sinal era complicado. Aí a gente entrou nesse processo de entender o que estava de errado e buscar uma forma de melhorar", diz o entregador.

Depois de algumas pesquisas, eles resolveram trocar de maquininha para uma que possui mais recursos que se encaixam melhor às necessidades deles.

Por enquanto, eles aceitam poucas bandeiras de cartões de crédito e débito, mas já decidiram que irão ampliar a oferta de tipos de cartões que vão aceitar. Para eles, esta é uma evolução fundamental para aumentar o fluxo de vendas.

Poder de compra

No Jardim Rosana, do outro lado do Jardim Copacana, está localizado o "Ponto Certo Variedades",  famoso mercadinho de quebrada que tem de tudo um pouco e que supre aquela demanda de última hora do morador do bairro. O estabelecimento é administrado por Maria Erilene, mais conhecida por "Leninha",  e seu filho Ailton Taveira.

No começo do negócio, Leninha ia até a rua 25 de Março, no centro da cidade, para comprar roupas e acessórios para vender em seu bairro. Ao perceber o crescimento de pedidos de moradores do bairro, ela fundou sua própria loja na garagem de casa. Com o tempo, seu filho se juntou ao negócios.

"A gente teve uma ideia de colocar uma mercearia, porque muita gente estava pedindo arroz, feijão, essas coisas. Aí teve essa divisão, a gente dividiu a loja em dois segmentos. Na verdade tem tudo que a comunidade está precisando", diz Taveira.

Para Ailton, a implementação de cartão de crédito permitiu às pessoas da região ter maior poder de compra. "Muita gente ali paga aluguel, tem que fazer feira, pagar conta de luz e fazer isso com um salário mínimo não dá. A gente teve esse problema em relação ao dinheiro. Por exemplo, as pessoas compravam uma peça de roupa que custa R$ 100, eles não conseguiam dar esses R$ 100 direto. Às vezes, a gente parcelava em duas ou três vezes, mas ia demorar três meses para receber esse valor. Com cartão facilita porque já recebe tudo de uma vez só", diz.

O pagamento digital está cada vez mais influenciando o cenário econômico da quebrada, criando uma nova era de consumo. Os empreendedores já sentem os reflexos dessa transformação do comportamento de consumo dos moradores.

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O Desenrola E Não Me Enrola é um coletivo de produção jornalística que atua a partir das periferias de São Paulo, investigando fatos invisíveis que geram grandes impactos sociais na vida dos moradores e moradoras dos territórios periféricos.

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Como a vida dos moradores das periferias vem sendo impactada pela revolução digital que transformou as relações sociais, econômicas, culturais e políticas? É isso que o coletivo de jornalismo Desenrola E Não Me Enrola vai contar aqui no blog, trazendo histórias diretamente de quebrada para você conhecer de maneira mais aprofundada esse contexto social que mescla recursos mobile, consumo, comportamento, redes sociais e inovação. Site: https://desenrolaenaomenrola.com.br/